quarta-feira, 12 de março de 2014

A lição da mulher de Ló

A lição da mulher de Ló

A tradição hebraica ofereceu ao mundo, através das Sagradas Escrituras, a riqueza de uma sabedoria pura, simples, longe da pretensão de um conhecimento intelectual como nos moldes Ocidental, ostentado em ambientes acadêmicos,em programas de TV e em alguns livros, revelando em muitos portadores de tal conhecimento a adoção de certo pedantismo.
Podemos destacar, como exemplo de sabedoria pura, porém rica, a narrativa da mulher de Ló, que com seu marido saia da cidade de Sodoma, que, por sua imoralidade, seria destruída. Por olhar para trás, transformou-se em estátua de sal.
Refletindo sobre essa narrativa, podemos extrair uma rica lição, entre outras.
Como seres humanos, nos apegamos a pessoas e a coisas que  fazem parte de nosso repertório de prazeres -, até mesmo aquelas que não nos fazem bem -. Sabemos que as coisas perecem, fenecem e que as pessoas – não só perecem e fenecem, mas, por acréscimo, livremente se distanciam.
Geralmente, após um distanciamento de alguém que amamos, fruto de sua livre escolha, tendemos ficar perplexos, não aceitando o distanciamento proposto pela livre opção da pessoa que adotamos, que elegemos como integrante de nosso repertório de prazeres.  Essa não aceitação pasmada, leva-nos a tentativa de compreensão, de entender o que ocorreu de errado, porque fomos preteridos. Faz-nos olhar para trás, influi em nós uma rejeição ao porvir, pelo fato de estarmos apegados ao que se foi ao que não é mais, ao que passou.       
O apego ao que se foi e ao que ficou para trás, e não se configura como um bem -, pessoas, geografias, ou objetos -, pode ser prefigurado pela prática da mulher de Ló –, assemelha-se a prática de olhar para trás, para a imoral cidade de Sodoma que tanto apego nutria aquela mulher que avançava para outras bandas. Apegada ao que deixou, ao que perdeu, olhou para trás, e imóvel ficou, transformada em estátua de sal. Semelhantemente, quando apegados ao que se foi, que apesar de nosso apego, não nos fazia bem -, pessoa, geografia, ou objeto -, por fatalidade ou por opção, imóveis ficamos, enrijecidos ficamos, e por consequência, não avançamos para o novo, se não olharmos para frente.
Com a milenar e simples tradição hebraica, somos incitados a não permitir que nossos apegos e, até mesmo, nosso amor – fixe-nos em -, pessoa, geografia, ou objeto não ideais -, que por fatalidade ou por livre escolha apartaram-se, e como tal, devem ficar para trás, para o passado, superados pela distância construída por nossos passos que avante seguem.
O ideal é que olhemos para frente, pois o que não nos era saudável, e para trás ficou, deve ser superado pela procura ou pela já presente abundância do novo.

Lailson Castanha
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Foto: A Mulher de Ló - Coluna de Sal Eilat, Israel.